Piracicaba / SP - sexta-feira, 29 de março de 2024

URODINÂMICA INFANTIL

O que é a urodinâmica?
A urodinâmica, também chamada de Estudo Urodinâmico, é um exame realizado em um ambiente especial e privativo, a fim de avaliar o funcionamento da bexiga, que pode estar comprometido em diversas situações, como em doenças ou condições neurológicas, alterações congênitas (herdadas) ou comprometimento dos músculos que são responsáveis pelo armazenamento (enchimento, com continência) da bexiga com urina, e o seu esvaziamento (com pressões baixas). Na condição de saúde, a bexiga normal deve encher-se lentamente conforme a urina vai sendo produzida, sem aumentar a pressão dentro dela. Quando atinge determinado volume, a urina provoca a sensação de desejo de urinar, o qual deve ser controlado, sem escapar a urina, até encontrar um local adequado (toalete) para eliminá-la, esvaziando a bexiga completamente, seguido de alívio. Para a bexiga encher de urina, o musculo (esfíncter) deve manter-se contraído, para não haver escapes. No exame, com o auxílio de equipamentos especiais, o fluxo de urina da criança é medido e avaliado quando ele ou ela urinam, em um ambiente privado, em uma toalete especial (meninos geralmente em pé e meninas sentadas em cadeira apropriada). Uma fina sonda é passada na bexiga para preenchê-la de água destilada esterilizada, lentamente. Ao mesmo tempo, as pressões da bexiga e da barriga  são monitoradas e são identificadas a ocorrência ou não de contrações anormais da bexiga, além de possíveis sensações que possam ser relatadas pela criança (conforme a idade e capacidade de comunicar), quanto cabe dentro da bexiga e se ocorrem ou não perdas de urina anormais. Outros pontos importantes que são monitorados incluem suas características de esvaziamento (se a bexiga esvazia ou não completamente, com pressões normais, pressões altas ou baixas pressões).
O estudo pode ter 5 etapas:
•    Urofluxometria (medida do fluxo de urina): é solicitado para a criança urinar em um toilet especial (cadeirinha) com um sensor conectado a um computador que registra o fluxo de urina naquele momento. É medido o fluxo a cada segundo e o volume total urinado.
•    Cateterização e Cistometria: 2 finas sondas, flexíveis, são passadas cuidadosamente dentro da bexiga, embebidas por gel anestésico, através da uretra,  e a seguir fixadas com micropore, uma a fim de esvaziar medindo o volume da urina que sobrou dentro da bexiga e depois proceder ao enchimento com água destilada estéril, e outra para as medidas de pressão vesical. Quase sempre, 1 fina sonda com pequeno balãozinho é passado no reto, para medir as pressões do abdômen. Nesta etapa, são medidas as pressões no interior da bexiga durante o enchimento desta. São verificadas as sensações (vontade de urinar), ocorrência de perdas ou escapes anormais, qual a capacidade máxima da bexiga e a complacência (quanto cabe de líquido sem elevar a pressão).
•    Perfil pressórico uretral: o cateter é lentamente retirado através da uretra, enquanto o computador registra as pressões no interior da mesma. Geralmente, esta etapa é mais importante na avaliação de incontinência (perda involuntária) urinária em pessoas adultas.
•    Eletromiografia: se é suspeitado de algum problema neurológico na criança, como causa dos sintomas, esta etapa é realizada, através de 3 eletrodos colados à pele, sendo 2 no períneo e 1 na coxa. São registrados então os reflexos musculares dos esfíncteres e as respostas dos mesmos quando a bexiga está enchendo e esvaziando, verificando funcionamento harmônico ou não entre os mesmos.
Muitas vezes não são necessárias a realização de todas as etapas, pois o objetivo do exame é determinado individualmente para cada paciente, conforme seu quadro clínico ou indicação. Em crianças menores, o exame pode demorar mais tempo. O exame pode levar de 30 a 60 minutos.
Quem deve realizar a urodinâmica e quando fazer?
Crianças com incontinência urinária podem necessitar de um estudo urodinâmico se o problema não estiver sido resolvido por métodos mais simples de tratamento, como uso de medicações e modificações estratégicas do comportamento.
•    Para crianças com infecção urinária recorrente, a urodinâmica é normalmente realizada quando apresenta infecções urinárias recorrentes ou incontinência urinária apesar de estar sob tratamento preventivo com antibióticos, por tempo prolongado.
•    Podem ser necessários os estudos urodinâmicos se o raio x revela alguma anormalidade em bexiga em crianças com infecções urinárias de repetição, ou alterações específicas ao raio x da coluna vertebral.
•    Quando exames de imagens mostram alterações do trato urinário superior que sejam sugestivas de alterações da bexiga.
•    Crianças com mielodisplasia (espinha bífida, mielomeningocele) os estudos são realizados já durante o período neonatal, a fim de ser iniciada terapia preventiva específica o mais breve possível. Outros estudos também são necessários ao longo da vida destas crianças, se estas não melhorarem a continência urinária com medidas simples como cateterismo intermitente e medicações que relaxam a bexiga.
•    Em crianças com outros problemas que levam à incontinência, tais como epispádias/extrofia vesical, ou malformações anorretais, a urodinâmica é recomendada, principalmente se a incontinência não tiver resolvida om medidas ou tratamentos mais simples. O Estudo Urodinâmico auxilia na condução do caso avaliando os resultados entre as alternativas terapêuticas e contribui para melhorar a eficiência do plano de tratamento do paciente.
Como é o preparo para o exame?
Para se ter certeza de que o paciente não esteja tendo uma infecção urinária por ocasião do exame, devem ser realizados  exames de Urina I e Urocultura dentro de 1 semana antecedendo a data agendada. Poderá ser necessária a utilização de doses profiláticas de antibiótico, antes e após o exame.
No dia do exame, é importante ter certeza que o paciente venha ao local do exame com a bexiga relativamente cheia (se a idade ou a condição permitirem) a fim de que possa ser possível ele ou ela urinarem espontaneamente. Uma bexiga completamente cheia não é fundamental para uma criança que não consegue urinar voluntariamente, e que dependa de cateterismo vesical para esvaziar. É importante també explicar à criança sobre o exame, como é feito, e que é importante para ter sucesso e benefícios no seu tratamento. Explicando tudo para a criança, dependendo de sua idade e da compreensão da mesma, é possível que o exame seja realizado de modo mais fácil.

Após o exame: pode haver queixa de ardência urinária ou aumento da frequência, que geralmente melhoram após 12 a 48 horas. Eventualmente pode ocorrer sangramento uretral, em geral discreto e que para espontaneamente. Pode ocorrer também infecção urinária, inclusive com bacteriemia (febre, calafrios, dor de cabeça, vômitos, perda de apetite, fraqueza), embora muito rara. Por este motivo muitas vezes é utilizada a administração de doses antibióticas preventivas, antes e após o exame, caso o paciente já não faça uso de rotina.